GENERALIDADES
Geomorfologia é a ciência que estuda a gênese e a evolução das formas de relevo sobre a superfície da Terra, onde estas formas são resultantes dos processos atuais e pretéritos ocorridos nos litotipos existentes (CHRISTOFOLETTI, 1980). Os processos ou fatores que definem esta evolução podem ser exógenos ou modeladores (climas antigos e atuais, vegetação e solos) e endógenos ou formadores de relevo (tectônica e a geologia).
A interação entre estes dois fatores torna-se muito importante, devido ao fato que em locais onde os litotipos (geologia) são mais resistentes o relevo tende a ser mais preservado em virtude das limitações impostas por estes aos agentes modeladores.
Para exemplificar, na figura abaixo, a drenagem se instalou sobre uma grande descontinuidade estrutural existente nas rochas do local, predeterminando a via de percolação de água, que é um agente catalisador nos processos de erosão e deposição de sedimentos.
|
Legenda:
|
1 - As raízes profundas da vegetação existente penetram no solo, que ao chegar na camada “B” acabam por forçar a abertura de pequenas rachaduras por onde a água penetra, contribuindo o intemperismo da mesma.
2 - Falha geológica do tipo normal, que associado a ação da água fez com que a camada de rocha “A” desaparecesse.
3 - Vegetação rasteira cujas raízes se entremeiam nas pequenas descontinuidades (Fraturas e Juntas) da camada de rocha “A”. Isto associada a ação da água, contribui com o desgaste da mesma.
4 - Outro exemplo da ação intempérica da água. Neste as águas do rio agem diretamente sobre a camada de rocha “A”, desgastando-a e carreando partes desta para o fundo do rio.
|
Exemplo de interação entre fatores exógenos e endógenos.
De maneira simplificada pode-se dizer que descontinuidades estruturais no substrato geológico provocam irregularidades que podem ser visualizadas na paisagem. Estas descontinuidades estruturais são comumente conhecidas por falhas, fraturas e juntas, relacionando-se com a movimentação horizontal ou vertical de blocos. Entretanto, o tipo e o grau de movimentação varia de estrutura para estrutura.
Apesar de existirem vários tipos e subtipos de falhas, as principais são Falhas transcorrentes, Falhas inversas e Falhas normais. Quando esta movimentação associada a algum tipo de falha é abrupta causa quebras e abatimento de blocos. Na paisagem, as mais facilmente observadas são principalmente as de tipo normal, pois apresentam mergulhos em torno de 60º.
|
Legenda:
|
A - Falha de tipo Normal. Este tipo de falha é o que gera mais relevo, em virtude do mergulho gerado. Pode ocorrer associada à de tipo inversa.
B - Falha de tipo Inversa. Este tipo de falha também gera bastante relevo, mas que é rapidamente intemperizado em virtude do mergulho.
C - Falha de tipo Transcorrente. Este tipo de falha, geralmente não forma relevo, pois os movimentos são laterais.
|
Principais tipos de falhas geológicas existentes.
Em suma, a partir da morfogênese, ou interação das forças endógenas e exógenas, a superfície da Terra está em constante mudança. As formas de relevo se alternam como resultado da ação conjunta dos componentes da natureza, que, por sua vez, também são influenciados em diferentes proporções pelas formas de relevo (ROSS, 1992).
O estudo geomorfologia, em virtude dos vários fatores que interagem para a formação e esculturação do relevo, abordam duas correntes de pensamento que se destacam no Brasil. A primeira ressalta o fator climático como preponderante e a segunda enfatiza os aspectos litoestruturais na sua esculturação (tectônica de placas).
Segundo ALMEIDA, (1964) o Estado de São Paulo é dividida em cinco grandes províncias: Planalto Atlântico, Planalto Ocidental Província Costeira, Depressão Periférica e Cuestas Basálticas.
Para o autor, na área aparecem duas destas unidades morfoestruturais:
Depressão Periférica: constitui-se principalmente de arenitos, podendo aparecer manchas de siltes e argilas. Possui relevo com formas onduladas ou tabuliformes, destacando-se os morros testemunhos e pequenas cuestas. Na maior parte é de grande amplitude topográfica, com vales amplos e suaves;
Cuestas Basálticas: constituem-se principalmente de camadas de rochas areníticas e basálticas. Apresentam-se no relevo como o alinhamento de escarpas com cortes abruptos e íngremes em sua parte frontal e um declive suave em seu reverso.
Mapa simplificado de províncias geomorfológicas do Estado de São Paulo, com localização da área de estudo (laranja). (Adaptado de: ALMEIDA, 1964).
Segundo ROSS & MOROZ (1997) a região possui em seus limites duas unidades geomorfológicas caracterizadas como:
|
Legenda
|
1 - 2: Planalto Ocidental Paulista:
Esta unidade se caracteriza por vales pouco profundos com encostas de inclinações suaves (10 a 20%), proporcionando um relevo ligeiramente ondulado sob a forma de colinas amplas e baixas, com topos aplainados. Possui altimetria variando entre 300m e 900m;
3 - Depressão Periférica Paulista:
Esta unidade é uma área deprimida entre as Escarpas e Planalto Atlântico com desníveis entre 200-300 metros e aproximadamente 450 km de comprimento por 100 km de largura, cujos litotipos dominantes são arenitos e basaltos. Possui altimetria variando entre 500m e 650m.
|
Unidades geomorfológicas para a região. (Adaptado de: Ceapla ; Ross & Moroz , 1997.)
Ainda segundo ROSS & MOROZ op. cit., existem na área de estudo duas subunidades que compõe o Planalto Ocidental Paulista; o Planalto Centro Ocidental cujos litotipos dominantes são arenitos, lentes de siltitos e argilitos e o Planalto Residual de São Carlos cujos litotipos dominantes são os depósitos areno-argilosos.
Apesar de existirem várias divisões ou classificações para as unidades geomorfológicas, a maioria das interpretações leva em conta os litotipos existentes, a rede de drenagem, a altimetria, o clima e a tectônica atuante nas mesmas.
IMPORTÂNCIA DO CONTROLE ESTRUTURAL NA ÁREA
|
A tectônica existente na região está relacionada a soerguimentos e abatimentos caracterizados por pulsos tectônicos que adornavam a toda a região para oeste, ocasionando freqüentes retomadas de erosão pelos principais canais fluviais existentes, resultando no constante dissecamento do relevo existente (PENTEADO, 1968; SOARES, 1973; FACINCANI, 2000). As amplas movimentações verticais, em virtude dos processos modeladores, geravam um coluviamento contínuo, o que resultou na abundância de depósitos de talus, desenvolvimento de fluxos de detritos e afloramentos de rocha sã nas regiões escarpadas (FÚLFARO & BARCELOS, 1989).
Os processos tectônicos envolvidos na formação da Depressão Periférica Paulista apresentaram pulsações caracterizadas por diferentes ciclos de sedimentação e erosão (FÚLFARO & SUGUIO, 1968). Desta maneira, o processo modelador que formou a Depressão Periférica é caracterizado como sendo de erosão e influenciado pelas descontinuidades estruturais, que controlam tanto a drenagem e o relevo (FACINCANI, 2000). As direções ENE-WSW / NNW-SSE nas descontinuidades estruturais são preferenciais na região e podem ser visualizadas na atual drenagem, que pode ser dividida em dois sistemas ortogonais de fraturamento formando mosaicos retangulares aonde a erosão diferencial age modelando as escarpas das serras (FREITAS, 1955, PENTEADO, 1968 E FACINCANI, 2000).
As principais descontinuidades estruturais na região da Serra de Itaqueri e São Pedro são de direções preferenciais NE-SW, mas as direções preferenciais que são seguidas pelos principais afluentes da margem direita do Rio Corumbataí e a maior parte do Rio Passa Cinco são de direção predominante NW-SE (AMARAL & SOUZA, 1936 apud PENTEADO, 1968).
A Serra de Santana só se individualizou depois da completa evolução geológica da Bacia Sedimentar do Paraná. A preservação da atual compartimentação geomorfológica está diretamente ligada à localização privilegiada, pois a região Norte da área possui o divisor de águas local (Serra do Cuscuzeiro) e a região Oeste, borda do Planalto Ocidental Paulista, é controlada, pelas descontinuidades e intercalações arenítico-basálticas, das formações Botucatu e Serra Geral, que acabam por formar escarpas quase verticais e drenagens de direção preferencial NW, NE e N-S (CHRISTOFOLETTI & QUEIROZ NETO 1966).
A expressão morfológica das Serra Geral (Serras de Santana e Itaqueri) não existia e a paleodrenagem corria de leste para o centro da bacia (FULFARO, 1971). A reativação de planos de falhas criaram barreiras para os cursos de água tendo como conseqüência a desorganização do padrão da drenagem (BÓSIO, 1973), e a formação de barreiras que provocavam enchentes periódicas (FÚLFARO op. cit.).
O conhecimento dos conceitos e definições é tão importante quanto a visualização destas unidades, assim foram feitas fotos panorâmicas para mostrar as unidades na paisagem destacando a rede de drenagem e o relevo. Verifica-se que na região drenada pelo rio Corumbataí e seus afluentes predominam processos de dissecação da paisagem, influenciada por grandes estruturas tectônicas existentes .
Mapa de pontos em visada em campo das unidades geomorfológicas.
Panorâmica feita do alto da Serra de Santana. Ponto “A” no mapa de visadas em campo.
Região entre o município de Charqueada e Itirapina. Os morros testemunhos no lado direito da foto possuem aproximadamente o mesmo nível altimétrico da serra em torno de 800 m (linha tracejada vermelha), sendo esta a maneira como a Cuesta Basáltica se apresenta na paisagem em contato com a Depressão Periférica Paulista (Fundo do vale). Nota-se também os escarpamentos das serras com formas festonadas e sendo sulcada pela rede de drenagem.
Panorâmica feita do alto da Serra de Santana. Ponto “A” no mapa de visadas em campo.
Região entre o município de Charqueada e Analândia. O nível altimétrico estabelecido pelos morros agora se atenua (linha tracejada azul), restando somente alguns morros ao fundo, marcando a transição entre o Cuesta Basáltica e a Depressão Periférica Paulista.
Panorâmica feita do município de Ipeúna. Ponto “B” no mapa de visadas em campo.
Região entre o município de Ipeúna e Itirapina. O nível altimétrico estabelecido pela Serra de Itaqueri desaparece abruptamente (linha tracejada amarela), marcando o fim do domínio o Cuesta Basáltica e a transição com a Depressão Periférica Paulista.
Panorâmica feita do município de Ipeúna. Ponto “B” no mapa de visadas em campo.
Região entre o município de Ipeúna e Itirapina. O nível altimétrico estabelecido pela Serra de Itaqueri ao fundo se atenua rapidamente (linha tracejada amarela), marcando o final do domínio o Planalto Ocidental Paulista e início da Depressão Periférica Paulista.
Trevo no município de Rio Claro. Ponto “C” no mapa de visadas em campo.
No fundo da foto os morros pertencem ao Planalto Ocidental Paulista e as colinas amplas e suaves e morrotes (linha tracejada verde) são da Depressão Periférica Paulista.
Panorâmica entre os municípios de Corumbataí e Rio Claro. Ponto “D” no mapa de visadas em campo.
Região entre o município de Corumbataí e Itirapina. Apesar da inexistência de morros, o nível altimétrico (linha tracejada azul) na faixa central da foto é estável, sendo esta a maneira mais comum de como a Depressão Periférica Paulista se apresenta na paisagem.
Foto Panorâmica na rodovia SP -225. Ponto “E” no mapa de visadas em campo.
As colinas (linha tracejada amarela) são do Planalto Ocidental Paulista, subunidade Planalto Centro Ocidental. A serra do Cuscuzeiro ao fundo (linha tracejada amarela) faz parte do Planalto Residual de São Carlos.
Foto Panorâmica na rodovia SP -225. Ponto “E” no mapa de visadas em campo.
O nível altimétrico entre a primeira e a segunda colina são diferentes, aumentando gradativamente. Observe ao fundo da foto a Serra do Cuscuzeiro. Veja que a altimetria entre as colinas e a serra sobe gradativamente, marcando a transição entre o Planalto Centro Ocidental e o Planalto Residual de São Carlos.
Panorâmica no ponto “E” no mapa de visadas em campo.
No primeiro plano aparecem dois morros testemunhos (Morros do Camelo e Cuscuzeiro) de nível altimétrico elevado, onde o marca o fim do domínio Planalto Residual de São Carlos. Do lado direito da foto existe um trecho da Serra de Cuscuzeiro, cujo nível altimétrico é mais alto que os dos morros, marcando o início do Planalto Centro Ocidental.
Panorâmica no ponto “E” no mapa de visadas em campo.
Note como a quebra de relevo é abrupta para os paredões que compõe a Serra de Cuscuzeiro. Observe ainda que após esta quebra o relevo fica suave. O domínio para o lado esquerdo da foto Planalto Centro Ocidental e a planície que aparece na foto é o Planalto residual de São Carlos
|